O Arauto

Photobucket

domingo, julho 30, 2006

Falta de energia em Cabo Verde leva MpD a encostar Governo à parede

O Movimento para a Democracia (MpD) enviou um comunicado ao Arauto com o título "O Estado da Nação está indubitavelmente marcado pela questão energética". Leia já a seguir comunicado na íntegra:

«A situação de crise que se vive no país e particularmente na Cidade da Praia, demonstra que o MpD tinha razão.

O MpD tinha razão na sua insistência com o Governo sobre a necessidade de colocar a política energética no centro das preocupações da governação como um factor crítico e um elemento estratégico para suportar e impulsionar o crescimento económico e a melhoria da qualidade de vida das populações.

Foi a consciência dessa importância que explica que, reconhecendo as profundas limitações do país em financiar a expansão e a sustentabilidade do sector de energia e água e a necessidade de know-how especializado, se tenha optado pela privatização da ELECTRA no quadro de uma estratégia de desenvolvimento do sector a médio e longo prazo.

A selecção de um parceiro estratégico com experiência na gestão do sector, domínio de tecnologia e com capacidade financeira, visava dotar a empresa de um programa técnico e de investimentos para a modernização do sector, com a introdução de novas tecnologias, reutilização de águas residuais, redução de perdas, incremento da produção de energia eólica e aumento da cobertura de fornecimento desses bens às populações e às empresas.

Tudo isto exigia um investimento de 26 milhões de contos em 15 anos, ou seja, cerca de 1,7 milhões de contos por ano, montante incomportável para o Orçamento do Estado de Cabo Verde e para a sua capacidade de endividamento externo.

Isto é que justificou a privatização através da selecção, por concurso internacional, de um parceiro estratégico.

Isto é que está em causa quando se rompe a parceria estratégica.

É preciso por isso que o Governo seja claro na mensagem aos cabo-verdianos: o acordo de princípio assinado recentemente entre o Estado e o agrupamento EDP/ADP, transfere para o Estado a maioria do capital social, mas transfere também a responsabilidade pela realização de investimentos de mais de 20 milhões de contos nos próximos 10 anos, se se quiser desenvolver o sector energético.

O Governo deve responder, a partir de agora, qual é o seu plano.

Qual é o plano para garantir o financiamento dos investimentos, não só os de natureza urgente, mas também os relacionados com a melhoria e expansão das redes de produção e de distribuição e com a satisfação da procura na Praia e nas outras ilhas e concelhos do país.

O MpD tinha razão porque desde 2001 que vem chamando a atenção do Governo para a necessidade de adoptar uma política energética capaz de responder às demandas actuais, mas também de contribuir para o crescimento económico do país e para a melhoria da qualidade de vida das populações. Quatro interpelações ao Governo e vários debates sobre a política energética foram promovidos pelo Grupo Parlamentar do MpD.

Propostas e soluções foram várias vezes apresentadas assim como várias vezes foi o Governo avisado para as consequências que poderiam advir para as empresas e para as famílias, caso não houvesse inversão de rumo.
O Governo preferiu encaminhar pela via politiqueira suportada por uma eficaz máquina de propaganda e por uma atitude permanente de desresponsabilização.
Tomou posse em Fevereiro de 2001 e já em Outubro desse mesmo ano, através do próprio Primeiro Ministro, começou a ameaçar com o rompimento da parceria estratégica.
A ELECTRA foi assim, desde a primeira hora, elegida como um troféu de guerra e como um instrumento de excitação nacionalista por se tratar de uma empresa que opera num sector que mexe directamente com a vida de todos os cabo-verdianos. Eficaz sem dúvida e isto rendeu votos ao PAICV, só que com custos incalculáveis para as populações e para as empresas, custos esses acumulados até hoje.
Este tipo de postura politiqueira transferiu para o campo político, relações empresariais que deveriam ser desenvolvidas no seio da empresa e no âmbito de uma regulação independente, responsável pela garantia do cumprimento de direitos e obrigações pela empresa concessionária e pelo Estado.
Foi a ausência de regulação independente e o intervencionismo do Governo em matéria de actualização das tarifas que conduziu ao arrastamento de um contencioso por mais de três anos com o parceiro estratégico sobre a fixação do montante desse défice tarifário, fazendo adiar e congelar importantes investimentos, nomeadamente o reforço da potência para a Praia que deveria estar executado desde 2003. E sem investimentos os cortes de energia e os apagões eram previsíveis e inevitáveis.

Foram sendo criadas condições para a quebra de confiança entre as partes, elemento determinante para a existência do casamento de interesses e de propósitos. É assim na vida e por maioria de razão nos negócios; sem confiança não há parceria que aguente.
O caso ELECTRA é apenas uma parte de um problema mais complexo que se relaciona com a política energética nos sectores dos combustíveis, da electricidade e da água e que tem implicações sobre todos os outros sectores da economia, o que aumenta os motivos de preocupação.
A crise energética actual é consequência da não preparação do país para fazer face a choques petrolíferos que nos últimos três anos vêm marcando a economia mundial e cujos contornos e persistência têm tendência para agravar e durar.
O desenvolvimento deste sector vital para o país depende da capacidade do Governo em realizar reformas, em explicitar e executar uma política energética virada para efeitos estruturantes a médio e longo prazo, depende de regras e da regulamentação de preços e tarifas e de uma regulação independente e competente capaz de proteger os direitos dos consumidores, incentivar a eficiência da prestação de serviços e de garantir confiança e tranquilidade aos accionistas quanto ao retorno dos seus investimentos, num sector de capital intensivo e exigente em elevados investimentos.

Estes são elementos fundamentais sem os quais nem americanos, nem japoneses, nem chineses, nem portugueses e nem mesmo cabo-verdianos, terão sucesso empresarial nesse sector.

A situação actual de profunda crise energética que o País atravessa, mostra-nos as consequências que a via politiqueira e propagandista podem provocar ao País.

Para o futuro reforçam-se as nossas preocupações, pois o Governo já deu sinais claros que não está disponível a mudar de rumo.

Antes pelo contrário, a utilização de todos os meios para se atingirem os fins, como foi o caso da indicação dos caminhos das fronteiras e das “lindas praias” a investidores externos, mostra até onde é capaz de ir o chefe deste Governo.

É nesse mesmo sentido de fuga em frente que vai a promessa feita há dias pelo Primeiro Ministro, de electrificar 100% de Cabo Verde nos próximos quatro anos e, repentinamente, baixar as tarifas, como se isso tudo dependesse apenas de inspiração momentânea, em Santa Catarina.

É preciso mudar de rumo e agir responsavelmente procurando soluções que resolvam as situações de emergência mas que ao mesmo tempo garantam o desenvolvimento e a sustentabilidade da produção e distribuição da energia e água ao país. Convidamos V. Exa, Senhor Primeiro Ministro, a seguir por este caminho.

Senhor Presidente
Senhor Primeiro Ministro
Senhores Deputados

Cabo Verde vive num contexto em que oportunidades não podem ser desperdiçadas.

O interesse de investidores externos e de novos centros de origem de turistas como a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda, a visibilidade proporcionada pelos recentes exercícios da NATO no País, a problemática mundial da segurança e da imigração, a internacionalização crescente de músicos e artistas cabo-verdianos, configuram importantes oportunidades que exigem uma adequada preparação do país para as aproveitar em benefício do crescimento económico e desenvolvimento do País.

O estado actual da nação mostra-nos que o Governo não preparou o País nem para fazer face às ameaças e nem para aproveitar as oportunidades.

A crise energética que se vive no país é o exemplo acabado dessa impreparação. A forma como o país tem sido atingido pelos choques petrolíferos e as acções e omissões do Governo em matéria de política energética, tem sido um duro golpe para a competitividade das empresas e oferecem aos investidores um contexto gravoso para investimentos e exploração num sector tão sensível a custos como a indústria do turismo.

Mas essa impreparação coloca-se a vários outros níveis. Coloca-se a nível da segurança, da justiça, da regulação económica, da administração pública, factores fundamentais a potencialização do crescimento económico. O ritmo em que estas instituições andam e as disfunções que transportam não são compatíveis com o vigor que é necessário imprimir para potenciar as oportunidades que se colocam ao país.

O estado de crescimento da insegurança, o descontrolo da imigração ilegal, as fragilidades do sistema judicial, a realidade social de grande desemprego e de elevados níveis de pobreza, impõem ao país importantes desafios para os quais o Governo deverá ter respostas atempadas e eficazes, sob pena de o país ser surpreendido por choques ainda piores do que os choques petrolíferos.

Temos fundadas razões para preocupação, pois a via politiqueira, propagandista e desresponsabilizadora deste Governo que rechaça a qualquer custo tudo o que incomoda o seu poder, é imprópria para a fortificação e a qualificação das instituições públicas.

O crescimento acelerado e sustentado do país exige uma atitude do Governo, promotora da iniciativa privada e não bloqueadora e discriminatória como vem acontecendo.

Exige capacidade de fazer funcionar a economia de mercado.

Exige a execução de políticas que conduzam à redução dos custos de contexto em que operam as empresas com vista a aumentar a sua produtividade.

Exige a compreensão de que a competividade é criada pelas empresas que por sua vez carecem de condições microeconómicas adequadas para se desenvolverem e competirem no mundo global.

Exige uma aposta decisiva na criação de um ambiente favorável para a criação, manutenção e desenvolvimento de pequenas e médias empresas.

Este Governo tem falhado e a sua falha começa ao nível das atitudes e desenvolve-se ao nível da inexistência de políticas articuladas e consistentes.

O Governo tem falhado na regulação económica e na sua actuação no mercado promovendo a informalização da economia e promovendo o clientelismo e o favorecimento através da adjudicação directa de obras públicas de avultados montantes, como estradas e aeroportos e da adjudicação directa de obras a associações comunitárias em flagrante violação da lei das empreitadas.

Este é o conceito de economia de mercado deste Governo. Um conceito onde entra a engorda do Estado que já consome mais de 40% da riqueza nacional e onde empresas são obrigadas a suportar de forma abusiva custos das opções de política do Governo, como acontece com o sector dos transportes rodoviários urbanos de passageiros.

O Governo não está a preparar o destino de Cabo Verde para competir no mercado turístico internacional, antes pelo contrário promove uma política de aumento de custos. Não está a preparar o País para multiplicar os efeitos do desenvolvimento turismo sobre a economia porque reduziu o papel do Estado no sector ao de promotor de venda de terrenos de ZDTI’s.

Não há articulação com as políticas de desenvolvimento municipal e regional. Faltam investimentos nas questões básicas como o saneamento do meio, iluminação pública, segurança de bens e pessoas, disciplina do comércio informal, serviços de táxis e autocarros e roteiros turísticos atractivos. Potencialidades e especificidades das diversas ilhas não são aproveitadas.

Não há políticas articuladas, por isso a agricultura, a pecuária e as pescas, não são capazes de oferecer produtos com qualidade e a preços competitivos aos hotéis e restaurantes. De tal forma que um sector em expansão como é o turismo não tem outra alternativa do que abastecer-se através da importação.

A indústria da cultura que deveria desenvolver-se em estreita articulação com o turismo não passa de meras declarações de intenções desarticuladas e intermitentes.

Os sistemas educativo e de formação profissional não estão orientados para a melhoria dos padrões de qualificação e de especialização da mão-de-obra, num mundo que exige cada vez mais a centralidade no domínio do inglês, das ciências e da informática e facilidade, flexibilidade e rapidez de domínio da tecnologia e habilidades para uma produção de qualidade, seja de bens, seja de serviços.


Senhor Presidente
Senhor Primeiro Ministro
Senhores Deputados

Cabo Verde deveria estar hoje com uma qualidade de democracia mais elevada, mas não está.

A administração do sistema eleitoral não dá garantias de credibilidade, a comunicação social do Estado ainda domina o sector e tem importantes défices de imparcialidade, de independência e autonomia face ao poder; a justiça funciona com uma enorme lentidão e morosidade e o Estado aumenta o seu peso na economia e no controlo e subordinação económica dos cidadãos.

Cabo Verde poderia estar a ter um crescimento económico mais elevado e acelerado, mas não está.

Poderia estar com uma taxa de desemprego mais baixo, mas carrega neste momento elevados custos sociais e económicos de uma taxa de desemprego de 29%, em sentido lato, que atinge mais de 30 mil jovens de idade compreendida entre os 15 e os 34 anos.

Poderia estar a aproveitar as potencialidades da diversidade e especificidade das ilhas para aumentar o seu contributo para criação de riqueza nacional, mas em vez disso aumentam as assimetrias regionais.

O estado da nação deverá ser o momento para fazer balanço da governação, mas também o momento para exigir do Governo mudança de rumo.

Mudança da sua opção de transformar Cabo Verde num “gateway to África” e concentração no desenvolvimento vigoroso da indústria do turismo, da indústria da cultura e dos serviços financeiros orientados para mercados sofisticados e de elevado rendimento.

Abandono do modelo de desenvolvimento tripolar apresentado no programa do Governo sob novas roupagens e sua substituição por um modelo de desenvolvimento regional que promove a capacidade de criação de riqueza a nível de cada ilha através das suas potencialidades humanas, culturais, patrimoniais e naturais, da sua competitividade territorial e conexão com o mundo.
Mas principalmente mudança de atitude para um Governo de menos propaganda e mais concentrado na concepção e implementação de políticas que tenham como resultado a melhoria da qualidade de vida das populações de todas as ilhas e de todos os concelhos, urbanos e rurais.

Senhor Primeiro Ministro,

Remodele o Governo se for necessário, mas dê aos cabo-verdianos respostas concretas para os problemas concretos que o país atravessa e dê uma esperança aos jovens, não de festa e fantasias, mas de perspectivas de uma vida melhor, muito melhor, com mais emprego, mais segurança e menos pobreza.

FpD defende contribuição de todas as forças políticas no processo de paz em Cabinda

O secretário-geral da Frente para a Democracia (FpD), Luís do Nascimento, defendeu, num comunicado enviado recentemente ao "Arauto ", que o "Processo de Paz e a solução do caso Cabinda necessitam da contribuição resoluta e responsável de todas as forças políticas e sociais do território, incluindo a FLEC e as Forças Armadas Cabindesas Unificadas, a MPALABANDA, o clérigo, as autoridades tradicionais e os notáveis da Sociedade Cabindesa".

Eis, a seguir, o comunicado na íntegra:

«A FpD, a propósito da celebração do acordo de cessar-fogo entre as Forças Armadas Angolanas e as forças militares sob a direcção do senhor António Bento Bembe, pretende tomar posição pública sobre o processo de Paz em Cabinda:

1 - A FpD reitera que o Processo de Paz e a solução do “caso Cabinda” necessitam da contribuição resoluta e responsável de todas as forças politicas e sociais do território, incluindo nelas, a FLEC e as Forças Armadas Cabindesas Unificadas, a MPALABANDA, o clérigo, as autoridades tradicionais e os notáveis da Sociedade Cabindesa.

2 - A FpD recomenda ao Presidente da República que promova, através do seu Governo, negociações sérias, francas, abertas e honestas, colocando acima de tudo os elevados interesses do povo de Cabinda e os da Nação Angolana, e promova a discussão do “caso Cabinda” com todas as forças politicas com representação parlamentar, bem como com as forças políticas, cívicas e autoridades tradicionais representadas em Cabinda, um diálogo político sério, para que se obtenha consensos políticos e sociais duradoiros conducentes ao Desarmamento, a Paz, a Democracia e a efectiva Reconciliação Nacional.

3 - A FpD reafirma o seu apelo no sentido da cessação das acções ofensivas por parte das Forças Armadas Angolanas e dos grupos armados independentistas, no sentido do rápido estabelecimento da paz militar no Enclave.

4 – A FpD condena a atitude do Governo do MPLA em prosseguir a sua política de desvalorização da democracia (suprimindo a seu bel-prazer os direitos, as liberdades e as garantias individuais e colectivas dos cidadãos), do desrespeito à ordem Constitucional vigente, fazendo imperar a violência privada física e verbal e de tentar excluir da negociação e da vida política e cívica forças representativas das aspirações do povo de Cabinda.

5 – A FpD exige do governo o respeito da ordem constitucional, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem como o cumprimento das suas obrigações enquanto parte do Protocolo Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, pondo fim às violações sistemáticas dos Direitos Humanos, à perseguição que se move quer contra a MPALABANDA, conducente à sua extinção, quer contra a grande maioria dos padres das Igrejas de Cabinda, quer ainda contra membros e activistas cívicos (nomeadamente da MPALABANDA), consubstanciada na restrição à liberdade de movimentos pela apreensão ilegal de passaportes e, mesmo, de bilhetes de passagens.

6 – A FpD sempre apoiou e vai continuar a apoiar todas as forças e individualidades que em Cabinda defendem a Democracia, o Estado de Direito Democrático, a República contra a Autocracia, o Desenvolvimento e o Progresso social e cultural do país e se demarquem da política de assalto, enriquecimento individual e da repressão promovida pelo poder do partido da situação

Cabinda, 25 de Julho de 2006
PELA COMISSÃO POLÍTICA

Luís do Nascimento
(Secretário-geral)»

quinta-feira, julho 27, 2006

Em Cabo Verde ainda há quem tenha força

A associação Pró Praia, uma novel mas ousada organização da sociedade civil da ilha de Santiago, voltou a mostrar mais uma vez que ainda há força no corpo e na alma do cabo verdiano para lutar pelos seus direitos e denunciar ao mundo com todas as letras o que vai mal no País.
É que a associação Pró Praia arregimentou recentemente mais de duas centenas de cidadãos para marchar pelas ruas da cidade da Praia com o fito de exteriorizar o seu descontentamento contra a constante falta de energia eléctrica que, entre outros factores negativos para o povo e para a população, tem dado guita à criminalidade que se tem verificado na capital cabo verdiano. Digna de se lhe tirar o chapéu da forma mais reverencial possível, a atitude da associação Pró-Praia, que visou igualmente manifestar o seu velho amuo em relação à luz de velas a que a capital do arquipélago tem estado sujeita nos últimos meses, desdisse a teoria cínica e falsa de algumas instituições ocidentais que insistem em confundir a obra-prima do Mestre com a prima do mestre de obras ao classificar errada e teimosamente Cabo Verde como sendo um País de desenvolvimento médio, quando não o é, nunca foi e (não) está muito distante disso.
Aliás, viu-se isso nos olhos e sentiu-se na nervosa voz da crioula de calcanhares rachados que, em declarações à RTP-África, afirmou, como se não fosse verdade, que “sem luz nem segurança pública para os cidadãos, Cabo Verde não pode ser considerado como um País de desenvolvimento médio”.
De resto, a iniciativa da associação Pró-Praia cauciona o que o Notícias Lusófonas já tem denunciado, que Cabo Verde não é aquilo que parece aos olhos do mundo. Ou seja, Cabo Verde não se restringe às nostálgicas mornas que muito apreciamos e o PAICV sabe tirar proveito disso para embarricar o mundo e os cabos verdianos, sobretudo os que se encontram na diáspora.

Crónica publicada inicialmente aqui

segunda-feira, julho 24, 2006

Cabinda: paz à vista (?)

A assinatura formal do Memorando de Entendimento visando estabelecer a paz em Cabinda decorrerá a 1 de Agosto, na cidade litoral-sul do Namibe, anunciou hoje em Luanda o ministro da Administração do Território angolano, Virgílio Fontes Pereira. "O passo seguinte para além da informação que temos a prestar aos órgãos de soberania será a assinatura formal do Memorando de Entendimento que ocorrerá na província do Namibe, certos de que conseguiremos alcançar finalmente o acordo para a paz naquela parcela do nosso território", salientou Fontes Pereira.
O governante angolano este anúncio, quando informava aos deputados durante uma sessão extraordinária da Assembleia Nacional, que se debruçou sobre o processo das negociações sobre o enclave de Cabinda. Segundo o ministro, as negociações para a paz no enclave duraram 12 meses, tendo o governo e o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), debatido questões "sensíveis" como a independência de Cabinda, que foi posta de parte, juntamente com a autonomia da região, porque a actual lei constitucional não prevê e a redução das forças militares governamentais estacionadas em Cabinda.
"Outro assunto que focalizou as negociações incidiu sobre a necessidade de se encontrar um interlocutor válido da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) para negociar com o governo sobre a paz que conduziu António Bento Bembe à liderança do FCD com a legitimidade de fazê-lo", disse.
Virgílio Fontes Pereira considerou ainda fundamentais durante as negociações a cessação das hostilidades, estipulada num acordo de cessar-fogo, a aprovação de uma lei de amnistia, a integração dos membros da FLEC nas instituições do Estado angolano e a atribuição de um estatuto especial para Cabinda.
Nesse sentido, acrescentou, foi elaborado um Memorando de Entendimento que estabelece entre outros, o reconhecimento de Angola como "Estado unitário de direito e indivisível" e o respeito à Lei constitucional em vigor em Angola. O documento reconhece também as especificidades da província de Cabinda, no domínio, geo-político, administrativo e cultural, o que conferirá ao território um estatuto especial que prevê um novo modelo de governação. "Não pretendemos um estatuto especial que extravase a actual Constituição angolana, mas que tem como elementos estruturantes, a atribuição de competências à governação de Cabinda, promovendo a partilha de decisões entre os órgãos centrais do Estado e os da região, além do aprofundamento do sistema de governação participativo", afirmou Virgílio Fontes Pereira.
"O governo tudo fará para que a paz seja definitiva em Cabinda e que ninguém perturbe o processo", assegurou o ministro. Por seu lado, o presidente em exercício da bancada parlamentar da UNITA, Daniel Domingos Maluka, encorajou o governo a prosseguir os esforços de pacificação de Cabinda, mas sugeriu que o processo negocial fosse mais "inclusivo", passando a contar com a presença do líder independentista, Nzita Tiago.
"A UNITA encoraja o governo no sentido de se encontrar a paz em Cabinda, mas manifesta-se apreensivo de que esse processo seja exclusivo e defendemos que fosse inclusivo com a participação de Nzita Tiago", afirmou Domingos Maluka.
Opinião idêntica foi partilhada por António Muachicungo, do Partido de Renovação Social (PRS), que após saudar os esforços do Governo por ter encontrado o caminho da paz em Cabinda, defendeu a concessão pelo governo de uma autonomia para a região. "O povo de Cabinda deve ter efectivamente uma autonomia para melhor conduzir os seus destinos, embora não seja aqui clarificada se essa autonomia será política, económica, financeira ou administrativa, o que não colide com a actual Lei Constitucional", disse Muachicungo.
Por seu turno, o líder do Partido da Aliança da Juventude Operário-Camponesa (PAJOCA), Alexandre Sebastião, manifestou-se favorável à autonomia de Cabinda. "Um autonomia local em nada lesa a unicidade do Estado angolano. Poderíamos evoluir para uma autonomia e Cabinda ser um balão de ensaio para as eleições autárquicas em Angola", frisou.
O texto do Memorando de Entendimento aprovado há pouco mais de uma semana, em Brazzaville, em dois dias de negociações entre o Governo de Angola e uma delegação do FCD chefiada por Bento Bembe foi já contestado pela FLEC, liderada por Nzita Tiago, a que pertence o fórum cabindês.
No início deste ano, Nzita Tiago exonerou Bento Bembe da presidência do FCD, pelo que não lhe reconhece competência para falar em nome daquele órgão da FLEC.

sexta-feira, julho 21, 2006

Carta aberta a um pseudo-amigo!

Há dias um pseudo-amigo, uma pessoa que, a todo custo, quer ser gente, aproximou-se de mim devagar (devagarinho) e, como quem não quer nada (querendo), pediu para que deixasse de escrever sobre o MPLA e a UNITA. A razão do seu argumento é a de que o primeiro (o MPLA), quando vê os seus interesses em perigo, mata. Ou melhor, manda matar. O segundo (a UNITA), no seu dizer, limita-se a pôr o nome de quem não chupa no “índex” para um ajuste de contas no dia que ocupar (pelo andar da carruagem só lá para 2020 ou cinco anos mais tarde) o palácio da Cidade Alta.
O pseudo-amigo, apologista do princípio de que as ideias do poder devem sobrepor-se ao poder das ideias, ignora certamente (por isso é que ninguém o consegue demover da ideia de que os bombeiros não existem apenas para extinguirincêndios) que o povo, contrariamente aos discursos messiânicos do passado, não é o MPLA e muito menos a UNITA, mas sim um conjunto angolanos que, por opção política, militam num ou noutro.
O mesmo desconhece que antes do MPLA e da UNITA (que, na verdade, são bananas do mesmo cacho e farinha dos mesmo saco) surgirem, já os angolanos habitavam o território que hoje dá pelo nome de República (que também já foi Popular)de Angola.
Recado ou não, ameaça velada ou não (mesmo depois de terem partido o vidro da minha velha carripana e terem deixado um bilhete e dizer para ter “cuidado por ser muito jovem”), a verdade, meu pseudo-amigo, é que ninguém me pode impedir de participar, através da caneta e nesta tribuna, na vida política do meu País. E é (e assim continuará a ser por muito tempo) incontornável, nem seria de bom-tom para a História, querer-se falar de Angola e dos angolanos sem invocarmos os nomes dos contendores que partiram o País, o MPLA e a UNITA.
Por isso – até porque tenho a vantagem de conhecer os truques (quase) todos do poder quando quer engatilhar alguém que lhe faz mossa –, meu pseudo-amigo, podem prender-me, multar-me, humilhar-me, os jornalistas entricheirados na Vila-Alice podem até dizer coisas e losas (como já o fizeram), usurpar os bens que (não) tenho, mas não podem de forma alguma tirar-me o direito de escrever(falar) sobre a (má) governação que existe neste País de banana, governada por sacanas.
Sabem porquê? Porque (se os Kalibrados dizem que o limite é o chão) eu digo que o máximo que podem contra mim é tirar-me a vida.
Por isso, meu pseudo-amigo, podem torturar o meu corpo, partir os meus ossos, podem até matar-me (então aí terão o meu corpo morto, mas não a minha subserviência), mas enquanto tiver coluna vertebral, continuarei a falar simsenhor do MPLA e da UNITA (entre os dois que venha o diabo e escolha).
Sabem porquê? Porque (se os Kalibrados dizem que o limite é o chão) eu digo que o limite da discriminação social, económica e política conhecerá o seu fim se soubermos confiar o nosso voto a quem o merece de facto.
Crónica publicada incialmente no Notícias Lusófonas

quinta-feira, julho 20, 2006

Um carinho especial pela pátria que me pariu

Confesso que se há orgulhos que ainda me vão sobejando na mente, e sobretudo na alma, (depois do desfecho do estúpido conflito armado durante o qual os camaradas praticaram inúmeras e indesculpáveis besteiras e os maninhos cometeram várias e irremissíveis asneiras) são os factos de nutrir um carinho especial pela pátria que me pariu e a ufania de ser angolano dia sim dia também sem que ninguém possa contraditar ou denegar-me este sentimento.
Mas o brio de ser angolano é literalmente ofuscado quando leio no relatório com o título “Operação Kissonde: Os diamantes da Humilhação e da Miséria”, da autoria do activista de Direitos Humanos Rafael Marques, lançado há dias em Lisboa, que seguranças privados no Cuango (Lunda-Norte) ao serviço das empresas “Teleservice”, “Alfa-5” e a “K&P Mineira” revistaram o ânus de Francisco Paulo Ita, 29 anos, com a vareta das suas armas, que espetaram mesmo lá dentro, a procura de diamantes (sic!).
Ilê aiê, haverá, meus senhores, abuso mais puro e duro!
Revolta-me o facto de saber que, segundo a narração de Rafael Marques, os capangas de um bando de chacais (a quem se atribui o título de generais do exército, todos eles próximos do partido no poder) terem obrigado, sob ameaça de arma de fogo apontada à cabeça, um genro a sodomizar o próprio sogro em plena luz do dia e à vista de todos.
Ilê aiê, quem semeia ventos colhe tempestades!
Sinto-me bestialmente envergonhado quando leio no relatório que no dia 20 de Abril de 2006, guardas da “K&P Mineira” impediram Francisco Pinto de pescar no rio Lumonhe sob o argumento de que o rio e os peixes, à semelhança dos diamantes, também são propriedades da SMC e por isso agrediram-no até perder os sentidos.
Ilê aiê, que maneira mais (in) feliz de viver como estrangeiro na própria terra!
Óscar Neves apanhou uma coronhada no olho e uma surra de cintos de seguranças da “Teleservice” por ter sido encontrado a banhar-se no rio Cuango pelo facto de o rio, tal como os diamantes, ter sido também sido concessionado à SMC.
Ilê aiê, como é bonito o povo reviver a opressão colonial num País independente!
Perco a esperança, já de per si quase moribunda, de que nos próximos 15 anos conseguir-se-á transformar Angola num País belo para se viver quando fico a saber que as empresas diamantíferas na Lunda-Norte em nada contribuem para a minimização da miséria das populações naquela região.
Ilê aiê, choremos, até um dia, com os olhos secos!
Crónica também publicada no Notícias Lusófonas

quarta-feira, julho 19, 2006

"Nandó", o preferido de Eduardo dos Santos

Estão em acentuação as tendências e/ou perspectivas de ascensão política do actual primeiro-ministro de Angola, Fernando da Piedade Dias dos Santos, “Nandó”, surgidas por alturas do afastamento de Fernando Miala da Direcção dos serviços de segurança.

Em meios qualificados do regime prepondera a convicção de que a promoção de “Nandó” é parte de uma dinâmica destinada a posicioná-lo como substituto, no futuro, de José Eduardo dos Santos (JES), actual presidente de Angola.
Segundo Xavier de Figueiredo do «África Monitor» não está suficientemente estabelecida a natureza da relação que existiu entre a ascensão de FPDS “Nandó” e a exoneração de Fernando Miala e, por arrastamento, de figuras com ele conotadas no sector da segurança – SINFO e SIE – e da UGP-Unidade da Guarda Presidencial.

Conjecturas mais consideradas
Segundo o «África Monitor», F. Miala foi afastado por deslealdade, incluindo práticas présediciosas e o presidente angolano, agindo por força de tal emergência, tratou de se apoiar em “Nandó” como forma de compensar o vácuo e os desequilíbrios internos que o afastamento de F. Miala provocou.
Miala foi afastado no seguimento de cálculos políticos que impunham a sua neutralização como forma de criar condições elementares para FPDS “Nandó” subir, refere o «Africa Monitor» para mais adiante acrescentar que as acusações de deslealdade foram movidas contra Miala, apenas serviram de pretexto à medida.
Refere aquela publicação portuguesa que entre FPDS “Nandó” e F. Miala existiu sempre um relacionamento reciprocamente desconfiado e tenso, de que José Eduardo dos Santos tirava proveito no sentido de os controlar e conter.
Conforme as conjunturas atravessadas, a rivalidade entre os dois regista ganhos e perdas por parte de ambos. No caso de a presente ascensão de FPDS “Nandó” ter ocorrido, de facto, num clima de autêntica pressão e ameaça sobre Eduardo dos Santos aquando dos acontecimentos recentes que levaram a um clima de pré-golpe de Estado que fez com que o presidente de Angola se mantivesse afastado do país por longo período, fica por determinar a intenção final da mesma e respectiva lógica.
Hipóteses consideradas:
- Uma medida circunstancial de gestão política e pessoal (por parte de JES-José Eduardo dos Santos), da crise F. Miala e suas sequelas.
- Uma medida de fundo tendente a identificar FPDS “Nandó” como futuro substituto de JES. O facto mais concludente do reforço da posição de FPDS “Nandó” foi a nomeação de Sebastião Martins para o cargo de vice-ministro do Interior – na prática, director do SINFO. Martins tem antigas e sólidas ligações ao actual primeiro-ministro “Nandó”, com o qual partilha sentimentos de inimizade para com Miala e conhece o SINFO e seus meandros. Em meios do MPLA e do regime geralmente bem posicionados é atribuída maior verosimilhança a análises de acordo com as quais a presente afirmação política de FPDS “Nandó” é parte de um processo congeminado por Eduardo dos Santos para o projectar como seu substituto na presidência.

Razões indeferidas da decisão de JES
Como razões para se explicar a decisão de Eduardo dos Santos, o «África Monitor» indexa as seguintes:
- A noção interior de que a inexistência de um “delfim”, num regime de vincada extracção pessoal, muito centralizado, é uma debilidade propiciadora de riscos múltiplos, em especial num quadro de emergência;
- Um “delfim” com imagem e aceitação consolidadas, eleva o grau de previsibilidade de evolução política do país e isso infunde mais confiança – interna e externamente;
- A pressão decorrente dos problemas de saúde por que passou recentemente;
- Está recomposto dos mesmos, a ponto de ter já retomado as suas antigas rotinas anteriores, mas é um facto verificado que passou por apuros (chegou a desfalecer, após a administração de uma injecção de iodo; teve de ser sujeito a recobro de urgência).
O actual primeiro-ministro “Nandó”, que indevidamente se apresenta como parente de JES – apenas apelido comum – é uma figura tida como controversa. Os seus adversários descrevem-no como pouco culto, ávido de prosperidade material e honrarias, ambicioso (um desvio na voragem do qual tem sacrificado amizades) e por vezes insensato.
Para Eduardo dos Santos e para os interesses e expectativas que este julga dever acautelar, no presente e no futuro, FPDS “Nandó” apresenta mais vantagens que desvantagens como seu substituto, segundo o «África Monitor»»:
- Guarda-lhe respeito e obediência – em parte devido à nítida ascendência pessoal e política que tem sobre ele; - está seguro de que não o renegará nem se distanciará dele, sobretudo se o proteger e lhe facilitar o caminho.
- Domina o sector da segurança e tem mentalidade notoriamente securitária – por efeito acumulado de funções típicas que desempenhou e de cursos que frequentou na antiga URSS, Cuba e, ultimamente, em Israel;
- A estabilidade do regime depende em larga escala do factor segurança.
- É astuto na escolha das suas alianças e apoios; implacável no tratamento dos seus inimigos.
- É um quimbundu de Luanda, com distintivos traços crioulos.
A amizade pessoal entre FPDS “Nandó” e JES está patente em evidências como a escolha daquele, por influência directa deste, para padrinho de casamento da filha, Tchizé Santos. As visitas privadas que trocam, inclusivé nas fazendas que ambos têm no Calulo – Belo Horizointe e Cabuta.
Também a mentalidade securitária de FPDS “Nandó”, vista como causa da falta de sensatez que também exibe, tem estado presente em episódios que levaram JES a admoestá-lo – uma particularidade demonstrativa do ascendente, considerado quase paternal, que tem sobre ele. Ainda o aparato excessivo de que se rodeia nas suas viagens ao interior; agora já não, mas antes chegava a mandar despachar equipas avançadas de reconhecimento – um privilégio apenas do PR.
O trânsito nas ruas e estradas por onde deve passar nas suas deslocações é literalmente impedido. O cerimonial protocolar que “Nandó” exige à partida e à chegada no aeroporto de Luanda (actualmente restringido por determinação de JES) é outro factor que retrata uma confiança mútua que faz dele delfim de Dos Santos.
Futuro de Eduardo dos Santos
O outlook corrente relação ao futuro político de JES e da sua vida pública é a de que pretende candidatar-se a mais um mandato, não mais. Quer ser claramente eleito e cumprir o mesmo integralmente ou até onde eventuais razões de força maior (saúde) ou a sua própria vontade o consentirem.
JES encara a sua eleição como fonte de uma legitimidade política e eleitoral de que sempre esteve desprovido e sem a qual não admite retirar-se. Dá a entender em ambientes recatados que só por tal razão está disposto a candidatar-se, concorrendo com candidatos que define como pessoas de outra geração.
Fonte: Canal de Moçambique

segunda-feira, julho 10, 2006

Katchiungo é o espelho da (des)governação do MPLA

Sete mil, oitocentos e oitenta e seis angolanos no município do Katchiungo (localidade situada a 62 e dois quilómetros da cidade do Huambo, antiga Nova Lisboa) não consomen água potável há 31 anos. Ou seja, depois do dia 11 de Novembro de 1975 deixaram de ver água a jorrar nas torneiras, tendo apenas como alternativa os rios que circunda a localidade.
De 11 de Novembro de 1975 a 22 de Fevereiro de 2002, seria perfeitamente compreensível esta situação por que ouviriamos a habitual ladaínha: "os senhores sabem que o País está em guerra e que oitenta por cento do Orçamento Geral do Estado é para aquisição de material de guerra e manter a integridade territorial".
Ora, o que é que se pode dizer então de uma localidade, situada nos arredores da segunda maior cidade do País, depois de a guerra ter terminado há cerca de cinco anos?
Não será maldade em demasia do Menos Pão Luz e Água esperar que apenas Deus dê água às cerca de mil, oitocentas e oitenta e seis almas que têm o (des)Governo que (não) merecem?

Taag canta de galo para MPLA ver

O presidente do Galo Negro quis, há cerca de uma semana, deslocar-se a Malange para realizar uma actividade político-partidária. Porém, contra todas as expectativas e ao arrepio do que havia programado, Isaías Samakuva viu-se impedido de realizá-la por a Taag (Linhas Aéreas de Angola) ter (de forma estranha, ineplicavel e sucessivamente) adiado o voo para àquela região do País.
A UNITA já ripostou denunciando que a não ida de Isaías Samakuva a Malange criou, como era de esperar, constragimentos no seu programa de trabalho e defraudou as expectaitivas dos seus militantes simpatizantes nas terras da Palanca Negra Gigante.
O porta-voz da Taag, Anastácio Fernandes, veio a terreio não para cantar de galo, mas para dizer que lamenta o sucedido e que não é a primeira vez que se cancela um voo até para cumprir com as regras estabelecidas pelas organizações internacionais de aviação civil.
Pois é! A Taag lamenta e o assunto, pelo que tudo indica, vai ficar por aqui pelo facto de o imprevisto ter acontecido com o presidente da UNITA, Isaías Samakuva.
É que se tivesse acontecido com o presidente do Menos Pão Luz e Água, a esta hora o Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Taag estaria a suar às estopinhas devido a comissão de inquério que seria criada para apurar responsabilidades.
Aliás, não precisava de ser com o presidente do Menos Pão Luz e Água. Bastaria que fosse com o relações públicas do cozinheiro do porteiro da Cidade Alta, mas como foi com o presidente do Galo Negro...

Líbia ajuda a CPLP a ter dignidade

Cada vez “gosto” mais desta CPLP e, também cada vez mais, desse enorme baluarte da Comunidade de Países de Língua Portuguesa que dá pelo nome de… Líbia. Então não é que o lusófono Muamar Kadhafi disponibilizou 10 limusinas, com motorista, para apoiar os presidentes que vão participar na VI Cimeira de Chefes de Estado e de Governo CPLP, que decorre de 12 a 17 deste mês em Bissau? O futuro da Lusofonia está garantido.
Ao que parece, o Governo de Nino Vieira pediu ajuda a Tripoli porque o país está, em matéria de transportes como de tudo o resto, de tanga. A Líbia, velha amiga dos poucos guineenses que têm milhões, não se fez rogada e vai daí fez chegar a Bissau as viaturas que vão dar o ar de cimeira ao encontro.
A falta de meios de transporte "dignos" de chefes de Estado na Guiné-Bissau (sim, que para o povo qualquer coisa serve) ficou assim "ultrapassada". A CPLP já pode respirar de alívio. Os seus representantes estão bem servidos. Além disso nem vão ter necessidade de reparar que, ali ao lado, o povo morre de fome. Dias 12 e 13, o Palace Hotel, a nova unidade hoteleira de cinco estrelas de Bissau, receberá a XII Reunião Ordinária dos Pontos Focais de Cooperação dos "oito".
Inês Rosa, vogal do Conselho Directivo do instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), e Ana Correia, técnica superior da Direcção dos Serviços dos Assuntos Comunitários e Multilaterais do Ministério dos Negócios Estrangeiros, representarão Portugal no encontro. Após serem definidos e acertados, os diferentes textos e projectos subirão à 94ª Reunião Ordinária do Comité de Concertação Permanente da CPLP, a realizar no sábado seguinte, dia 15, também no Palace Hotel.
O Comité, por sua vez, remeterá os textos e documentos à XI Reunião Ordinária do Conselho de Ministros, que os assinará na manhã de 17, dia da cimeira, para depois serem enviados para a VI Conferência de Chefes de Estado e de Governo, onde serão ratificados. Ainda no dia 17, a CPLP comemorará o seu 10º aniversário, havendo uma sessão solene no Parlamento guineense, com os trabalhos da cimeira a terminarem oficialmente com uma conferência de imprensa conjunta.
Digam lá que não parece mesmo uma coisa séria e de alto nível? Só parece, mas é quanto basta.
Dos sete presidentes dos Estados membros da CPLP convidados, apenas três confirmaram já à ida a Bissau - Pedro Pires (Cabo Verde), Armando Guebuza (Moçambique) e Fradique de Menezes (São Tomé e Príncipe), devendo, este último, ceder a presidência rotativa da organização ao anfitrião do evento, João Bernardo "Nino" Vieira. Os chefes de Estado português, Aníbal Cavaco Silva, angolano, José Eduardo dos Santos, e brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda não confirmaram a vinda, mas deverão fazê-lo em breve. Estavam só à espera de saber se a Líbia mandava ou não as limusinas… Presente igualmente na cimeira estará o presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, cujo país deverá pedir aos "oito" a adesão à CPLP mas na qualidade de observador associado. Crê-se, digo eu, que os “oito” vão igualmente agradecer a Muamar Kadhafi de forma digna. Ou seja, convidando a Líbia a integrar a CPLP de modo a que Tripoli faça pela Lusofonia o que, de facto e de jure, os seus integrantes deviam fazer.

Crónica do Jornalista Orlando Castro publicada no Notícias Lusófonas

Nino Vieira quer calar (seja a que preço for) os jornalistas livres

Guiné-Bissau vive dias de medo... e a CPLP não tuge nem muge, como é seu hábito O general e comandante Nino Vieira regressou ao poder e (coincidente estranhamente) com ele o abuso puro, duro, o medo e a insegurança também voltaram à Guiné-Bissau para aterrorizar intelectuais incómodos e jornalistas a quem de forma selectiva e clássica tem-se tirado a vida ou boicotado o trabalho. Os guineenses têm assistido de forma atónita a todo o tipo perseguições, prisões arbitrárias de políticos, de juízes do Supremo Tribunal de Justiça.
Este é o filme a preto e branco, mas também a cores que tem tido lugar na Guiné-Bissau aonde os jornalistas já não dormem. São dias de medo. E a CPLP não tuge nem muge... Os jornalistas na Guiné-Bissau, país com mais de um milhão de habitantes e o sexto mais pobre do mundo, não têm tido um sono descansado nem a possibilidade de desenvolver a sua actividade profissional como era suposto, possível e desejável num território que dentro de dias vai albergar a VI cimeira dos países da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP).
Os jornalistas não desenvolvem a actividade jornalística como esperavam por que alguém na Guiné-Bissau (não importa se balanta ou mandinga, pepel, fula, manjaco, muçulmano, animista ou cristão) decidiu declarar guerra aberta contra as Liberdades de Imprensa e de Expressão.
Uma guerra que no entender néscio e ignaro de quem decidiu voltar a (des)mandar na Guiné-Bissau, porque pensa que foi fadado apenas para ser comandante e não comandado, passa necessariamente por assassinatos de jornalistas por estes constituírem, segundo uma visão torpe e retrógrada de quem manda, uma ameaça do poder e dos seus detentores naquele pequeno país situado na costa Ocidental africana.
Os maus bocados por que estão a passar os jornalistas guineenses (sem esquecer certamente a perseguição de políticos, fazedores de opinião, intelectuais que não sejam do PAIGC ou próximo de quem pode decidir quem pode ou não continuar a viver) é sinónimo de que a paz, a justiça, a reconciliação nacional e o bem-estar estão longe de chegar à pátria de Amílcar Cabral.
A perseguição e mortes estranhas de Jornalistas na Guiné-Bissau e o boicote do normal funcionamento dos órgãos de Comunicação Social naquele país lusófono revela uma situação de degradação, de instabilidade e de total insegurança para o "Quarto Poder" e outras instituições que em condições normais contribuiriam sobremaneira para o fortalecimento da paz, da democracia e da construção de um Estado do Direito.
O facto de os jornalistas não comungarem com o desrespeito à Constituição da República, não pactuarem com a inobservância do principio da separação de poderes e serem alérgicos à corrupção, à mentira, ao nepotismo e clientelismo que campeia na Guiné-Bissau, e que está a corroer a sociedade local, é o suficiente para humilhar, destruir, rejeitar e não poucas vezes mandar matar quem elegeu a caneta como instrumento de trabalho.

Artigo publicado inicialmente no Notícias Lusófonas

Mortes estranhas entrarão na análise da cimeira da CPLP?

Bissau, a capital da Guiné, vai acolher (com circunstância e pompa) a partir do dia 12 a IV cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que, na verdade, vai servir para dar conta da sua “existência” e “mostrar trabalho” ao mundo lusófono e não só por não se saber quais são na essência os fins desta instituição.
Seja para dar conta da sua “existência” ou para “mostrar trabalho” ao mundo lusófono e não só, espero que, à margem ou no decurso da referida cimeira, os chefes de Estado e de Governo da CPLP inquiram, sem sofismas nem eufemismos, João Bernardo “Nino” Vieira por que razão se assiste, nos últimos tempos, na Guiné-Bissau a actos escuros como a cor negra da cobardia que na maior parte das vezes resultam em mortes estranhas e inexplicáveis de jornalistas e intelectuais nesta antiga colónia de Portugal.
Espero (com o desejo intranquilo de quem quer uma resposta para o dia ontem) que Eduardo dos Santos (Angola), Cavaco Silva (Portugal), Fradique de Menezes (São Tomé e Príncipe), Lula da Silva (Brasil), Pedro Pires (Cabo Verde) Armando Guebuza (Moçambique) e Xanana Gusmão (Timor-Leste) indaguem o “cafre” do Palácio da Colina de Boé a razão do ódio inflamado contra a classe jornalística e a violência indirecta contra alguns, mas quase todos, intelectuais que não são bem quistos pelo regime que (ainda) vigora na Guiné-Bissau.
Espero (tal como a minha mãe, a dona Maria Helena, ensinou-me a esperar paciente nas horas duras e difíceis) que os chefes de Estado e de Governo da CPLP façam a fineza de procurar esclarecer ao mundo porquê que os jornalistas e determinados intelectuais se tornaram inimigos a abater na primeira esquina das ruas escuras, medonhas e esburacadas de Bissau.

Espero (porque sou um modesto jornalista e cidadão do mundo lusófono que espera pelas vossas posições) que os chefes de Estado e de Governo da CPLP não se deslembrem de auscultar Nino Vieira e esclarecer ao mundo porquê que a paz que se esperava na Guiné-Bissau deu lugar à hostilidade e ao terrorismo velado (e ao mesmo tempo aberto) contra os jornalistas.

Se tal não acontecer, a inacção dos chefes de Estado e de Governos da CPLP, neste capítulo, vai matar a nesga, a réstia de esperança, que em mim ainda existe, de que se pode fazer alguma coisa em defesa da classe jornalística lusófona.

Crónica publicada inicialmente aqui

quinta-feira, julho 06, 2006

Antiga chefe do SINFO regressa à Universidade

A antiga chefe do Serviço de Informações (SINFO), Mariana Lisboa Filipe, depois de ter frequentado, há cerca de cinco anos, o terceiro ano do curso de Psicologia no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), voltou a matricular-se no curso de Relações Internacionais ministrado pelo Instituto de Relações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores.

Mariana Lisboa Filipe,recorde-se, foi destituida do cargo de directora do SINFO pelo chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, dia 1 de Abril de 2006, que neste mesmo dia exonerou igualmente Feliciano Domingos Tânio da Silva, ex-chefe adjunto deste organismo policial.

A exoneração destes dois responsáveis do SINFO, saliente-se, obedeceu a uma remodelação profunda que o chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, entendeu fazer e que levou igualmente a exoneração do então general Fernando Miala, do cargo de director-geral do Serviço de Inteligência Externa (SIE), a 24 de Fevereiro de 2006.

Em substituição dos aludidos nomes, José Eduardo dos Santos nomeou, por decreto, no passado dia 1 de Abril, André Oliveira João Sango, para o cargo de director-geral do Serviço de Inteligência Externa (SIE), e o comissário Sebastião José António Martins, para o cargo de chefe do Serviço de Informações, o comissário Filomeno Barber Octavio, para o cargo de chefe adjunto do Serviço de Informações e o brigadeiro Gilberto Verissímo, para o cargo de director-geral adjunto do Serviço de Inteligência Externa (SIE).

Fonte: Noticias Lusófonas

Agência Bissau: o (bom) exemplo

«Fazer jornalismo de qualidade com imparcialidade é muito difícil no nosso país”. Quem o diz, quem o escreve sem meias palavras é o o Director Geral da Agência Bissau, António Nhaga. Embora seja uma verdade que também se aplica a outros países lusófonos, entre os quais Portugal, enalteço a coragem de quem como António Nhaga os tem no sítio e não teme a força dos ditadores, se bem que por exemplos recentes passados na Guiné-Bissau corra, volte a correr, – porque corre – risco de vida.
«Não actualizamos o nosso site desde 19 do mês passado, por causa de várias coincidências estranhas que até hoje ainda não conseguimos nem conseguiremos explicar bem aos nossos leitores», diz António Nhaga, acrescentando que “depois da ameaça de nos processar por termos publicado um artigo, na semana seguinte veio um acidente violento que nos deixou com lágrimas nos olhos”.
Mas há mais: “Antes de ressuscitarmos bem do acidente o nosso estabelecimento foi assaltado e curiosamente os assaltantes não roubaram o nosso gerador e outros equipamentos. Será que estavam à procura do nosso computador onde está instado a Internet? Por quê? Não sabemos».
Prossegue António Nhaga: “Mas, o pior aconteceu, quando preparamos para publicar um artigo enviado por um nosso leitor com o título “A estratégia da dissimulação”.
O nosso servidor, estranhamente, avariou-se e os nossos técnicos não conseguiram detectar a avaria. Foi necessário recorrermos a uma empresa no estrangeiro para podermos reparar avaria no nosso servidor”.
E qual terá sido o crime da Agência Bissau? Responde António Nhaga: “O único mal é, talvez, o de querermos fazer um jornalismo diferente com qualidade e imparcialidade”. Aí está a explicação que os ditadores, capatezes e similares nunca entenderão. ”Nós navegamos num mar de dificuldades enormes para produzirmos as notícias que produzimos para milhares de guineenses espalhados pelo mundo fora.
Portanto, não é justo que alguém destrua o nosso servidor para não publicarmos artigo A ou B. Ou porque não gosta do artigo A ou B”, desabafa António Nhaga num grito de revolta que tão bem conheço. ”Se todos os guineenses tivessem a consciência do serviço público que prestamos ao nosso país, teriam orgulho de ter um único jornal on-line que produz notícias do país”, diz António Nhaga acrescentando que a “Agência Bissau Media e Publicações é, sem dúvida, o único órgão de Comunicação Social nacional que leva rápido a imagem do país a todos os cantos do mundo”.
Caro António Nhaga, esse é que é o teu, o meu e de mais meia dúzia de malucos, crime.
”Procuramos acima de tudo fazer jornalismo. Não temos nada contra ninguém. Portanto deixem-nos trabalhar, naquilo que pensamos que sabemos fazer. Pois, só assim é que o país poderá sair desta “lenga-lenga” de “pauladas” que não dignificam a imagem do país no concerto das nações”, diz ainda António Nhaga numa visão que deve ser protegida e incentivada por quem ama a liberdade. ”O que é que estas coincidências inexplicáveis têm a ganhar ao silenciar a Agência Bissau Media e Publicações?
É uma vergonha tentar silenciar por via subterrânea a Agência Bissau Media e Publicações ou matar alguém porque quer trabalhar para o bem-estar do seu país”, termina António Nhaga. É uma mesmo uma vergonha. É uma vergonha que atinge toda a Lusofonia.
No entanto, caro António Nhaga, não estás só. Ainda há alguma boa gente no Jornalismo que entende que quem não vive para servir não serve para viver.
Cá estaremos.

Crónica do Jornalista Orlando Castro, publicada inicialmente aqui

quarta-feira, julho 05, 2006

Uma ilha não faz o arquipélago?

Dois peritos da Comissão Económica das Nações Unidas para África estão a caminho da cidade da Praia para reuniões com o Governo de Cabo Verde e, ainda, para escolher o parceiro que no país irá realizar, ainda este ano, um estudo sobre «Boa Governação» que abrange 39 países africanos. Pela Manchete e pelos artigos de Eugénio Costa Almeida e Jorge Eurico, todos aqui no NL, parece que nem tudo vai bem ou, talvez, que há muitas coisas que começam a voltar ao antigamente.
Embora me pareça que as instituições de Cabo Verde (ainda) merecem o benefício da dúvida, teria gostado de ver o Supremo Tribunal de Justiça a ser mais célere, ou apenas célere, em chamar o presidente do PAICV e chefe do Governo, José Maria Neves, à responsabilidade para provar, como referiu o NL no dia 18 do mês passado, a afirmação por si proferida, dia 22 de Fevereiro do ano em curso, aquando das últimas eleições legislativa realizadas no arquipélago, segundo as quais o MpD, PSD e a UCID, no interior de Santiago, tinham comprado votos com o dinheiro proveniente do crime organizado e do tráfico de droga.
De facto e de jure, o primeiro-ministro cabo-verdiano parece dar razão ao (mau) principio do "quero, posso e mando", parecendo (pelo menos isso) que o Supremo Tribunal está sujeito às orientações do PAICV à semelhança do tempo do partido único.
Dir-me-ão, com toda a legitimidade, que uma ilha não fez um arquipélago. É verdade. Mas a inércia do Tribunal em relação a este episódio parece ser (mais uma) prova provada de que Cabo-Verde ainda está longe de atingir os padrões normais dos países de desenvolvimento médio e que, a meu ver bem, quer pôr um dos pés na União Europeia.
Por outras plavras, não basta ser sério, é preciso (também) parecê-lo. E, convenhamos, aos olhos do Mundo (que, é verdade, só vê o que lhe interessa) o presidente do PAICV parecer estar impune e, quando isso acontece, o próximo passo é o descrédito total.
Realmente cito o artigo de Eugénio Costa Almeida, não basta gozar de um prestígio, que o merece legitimamente. Há necessidade de o manter e cultivar. «Porque, como há tempos escrevia, um país que gerou “personalidades tão nobres e importantes como Cesária Évora, Germano de Almeida, Jorge Tolentino, Manuel Lopes ou o jornalista e poeta Eugénio Tavares” não pode, nem deve, “continuar a ver disputas inúteis e estéreis entre “tambarinos” e “ventoinhas” e, que por causa delas, pessoas de rua sejam prejudicadas só por que uma tenha e outra não o cartão do partido A ou do partido B”, diz Eugénio Costa Almeida. E tem razão. Mas se essa história do cartão partidário não é só um mal de Cabo Verde. Se isso é um paradigma do Terceiro Mundo, então Portugal – por exemplo – não caminha para lá... já lá está.

Crónica do Jornalista Orlando Castro, publicada no Notícias Lusófonas

Em Cabo Verde nem tudo é o que parece

A Embaixada de Cabo Verde em Portugal e a Associação de Estudantes Cabo Verdianos de Lisboa promoveram na capital portuguesa, terça-feira, 4, um colóquio com o título “Cabo Verde: Desafios de Desenvolvimento, Perspectivas da sua Sustentabilidade”. O colóquio, que teve como palco o auditório Alexandre Pessoa Vaz da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnológicas (ULHT), visou assinalar o trigésimo primeiro aniversário da nação e do Estado cabo-verdiano.
Na sessão de abertura do referido colóquio, o encarregado de Negócios da Embaixada de Cabo Verde em Lisboa, Daniel Pereira, afirmou no seu discurso de abertura que o seu País “constitui um exemplo de Estado de Direito democrático em África onde as instituições funcionam normalmente”.
Ao ouvir tal afirmação, apeteceu-me virar a cara, torcer o nariz, (que contrariamente ao da dona Maria Helena, minha mãe, não é muito bonito, confesso) afagar a orelha direita e dizer para os meus botões: “olhe que o negócio não é bem assim, senhor encarregado!”
Daniel Pereira sublinhou na sua alocução que “os direitos, liberdades e garantias estão perfeitamente delimitados e defendidos constitucionalmente e por instituições de Justiça independentes do poder político”.
Desta vez não só me apeteceu como virei mesmo a cara, torci o nariz (que não é muito atraente como o da minha protectora, admito), afaguei a orelha direita e disse para os meus botões: “olhe que o negócio não é bem assim, senhor encarregado!”
É claro que, como escreveram poetas cabo verdianos como Ovídio Martins, as cabras já “nos ensinam a comer pedras para não perecermos” como no passado.
Lá isto é verdade, mas o resto do negócio não é bem assim, senhor encarregado, não é não!
Crónica publicada no NL

Cabo Verde mais maduro no caminho do progresso

Completam-se precisamente hoje, 5 de Julho, treze mil e 200 dias, desde que na sua qualidade de primeiro presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Abílio Duarte, numa improvisada tribuna de honra, proclamava, com o simbolismo que impunha a circunstância, no estádio da Várzea (cidade da Praia), a independência da nação e do Estado Cabo Verde.

O Sol estava no zénite. O calor era intenso. As moscas zuniam nos ouvidos dos presentes, mas a indiferença mandava-as zunirem noutro lugar que não aquele. O acto que prendiam a atenção dos presentes iria mudar as suas vidas de uma vez por todas, por isso zumbido de mosca alguma ou picadela de mosquito algum os faria tirar os olhos ou desviar a atenção do homem de óculos escuros, vestido de uma balalaika e calça boca de sino (e outros que se encontravam na tribuna) que iria anunciar algo que daí para a frente mudaria para sempre as suas vidas.

O calendário assinalava dia 5 de Julho. Corria, de forma inexorável, o ano de 1975. Quase que não se sentia a leve aragem que passava quando no estádio da Várzea, apinhado de cabo-verdianos, políticos convidados, jornalistas e amigos do arquipélago, pediu-se a atenção do povo para ouvir o que diria Abílio Duarte.

O suspense era total. O momento era solene. Os corações palpitavam. Houve quem chorasse de alegria, houve quem esfregasse os dedos por nervosismo, houve quem se apoiasse e trocasse olhares inquietos com os companheiros de jornada. Houve pais que colocaram os filhos aos ombros para que estes também pudessem testemunhar o momento. Até mulheres com aventais tinham abandonado os afazeres de casa para não perder o momento.

Este era o cenário onde neste dia tudo era possível e aceite. Tudo era válido neste dia ou não ouviriam o anúncio que daria conta do dia em que veriam o antigo opressor pelas costas. Era, afinal, o dia da liberdade. Prova disso é que a bandeira das cinco quinas era arreada para dar lugar ao estandarte que representava o desafogo dos cabo-verdianos.

O legado colonial

A insígnia da liberdade cabo-verdiana era de cor amarela, verde e vermelha e tinha como símbolos uma concha, espigas de milho, uma estrela negra, uma roda dentada, um livro e, na parte superior, uma picareta que mais tarde a direcção do PAICV decidiu retirar.

A concha significava a vocação marítima do cabo-verdiano. As espigas de milho simbolizavam a base alimentar de Cabo-Verde. A estrela negra representava o continente africano. A roda dentada e o livro exprimiam o desejo de progresso e estudo.

Sob estas divisas já desfraldadas e a dançarem ao sabor do vento da liberdade, Cabo Verde ascendeu à independência com uma população estimada em 28 mil habitantes e uma economia literalmente arruinada. Prova disso é que o sector da indústria cabo-verdiana se resumia a três padarias (obsoletas), uma fábrica de tabacos e duas unidades falidas localizadas nas ilhas de São Vicente e de Boavista.

Demográfica, social e economicamente as ilhas de Cabo Verde estavam de rastos fruto do colonialismo feroz que acabava de ouvir o “canto do cisne”. Contudo, os portugueses quando arrearam a sua bandeira e meteram-na debaixo do braço com destino à Metrópole deixaram uma pequena herança.

O espólio colonialista para a nação e o Estado cabo-verdiano traduzia-se em mais de 70 por cento da população analfabeta, pobreza, miséria crónicas, USD 200 de Produto Interno Bruto (PIB) per capita, seis médicos, dois liceus, pouco mais de duas dúzias de estabelecimentos de instrução primária, um tesouro público exaurido e tecnicamente falido.

Cabo Verde, a ilha dos sacerdotes

O clima seco, quente, natureza agreste, entre outros factores, tornou dura a vida dos cabo-verdianos, o que os obrigou a emigrar desde muito cedo para distintos pontos do mundo (Europa, Américas, África e Ásia). Este fenómeno levou a que as ilhas de Cabo-Verde ficassem quase despovoadas.

O despovoamento de Cabo Verde levou a que elas passassem a ser conhecidas igualmente como “ilhas dos sacerdotes” pelo facto de os padres, apesar de o Vaticano não ver com bons olhos, constituírem famílias e deixarem descendentes.

O padre Nicolau (Cidade Velha), por exemplo, levou ao extremo o mandamento divino “crescei e multiplicai-vos”, tendo contribuído com 54 filhos para o povoamento das 10 ilhas. Abílio Duarte e Aristides Pereira são filhos de um padre e Dulce Almada Duarte neta de um cónego. Amílcar Cabral era neto de um sacerdote.

“Crescei e multiplicai-vos” continua a actual e a ser cumprido à risca. Hoje em Cabo Verde é-se capaz de encontrar uma rapariga com 19 anos sem instrução escolar nenhuma ou condições de quaisquer tipo, mas com quatro ou cinco filhos, enquanto que os jovens com idades situadas entre os 25 e 30 anos dão-se ao luxo de dizer que cada cabo verdiano pode ter quantas raparigas quiser e o número de mulheres que desejar.

Artigo completo publicado no Notícias Lusófonas

terça-feira, julho 04, 2006

Morte de familiar impede participação Carlos Graça em colóquio sobre Cabo Verde

O director da Polícia Nacional de Cabo Verde, superitendente-geral Carlos Graça, não esteve presente no colóquio "Cabo Verde: Desafios de Desenvolvimento, Perspectivas da sua Sustentabilidade" por motivos familiares, revelou ao Arauto o encarregado de Negócios de Cabo Verde em Lisboa.
"Carlos Graça por motivos de óbito de um familiar e isso deu-se no dia em que ele se preparava para embarcar com destino a Lisboa aonde deveria estar connosco", contou Daniel Pereira.
Recorde-se que Carlos Graça iria abordar, durante o colóquio, o tema "A segurança e a Pobreza: uma interligação perigosa".

Carlos Graça, ausente e ao mesmo tempo presente no colóquio sobre Cabo Verde

O director da Polícia Nacional de Cabo Verde, superintendente-geral Carlos Graça, esteve presente e, ao mesmo tempo, ausente do colóquio "Cabo Verde: Desafios de Desenvolvimento, Perspectivas da sua Sustentabilidade".
Carlos Graça, que deveria versar sobre o tema "A segurança e a Pobreza: uma interligação perigosa", esteve presente no colóquio pelo facto de o seu nome figurar no programa, mas presencialmente ninguém o viu e a organização não soube dar uma justificação às pessoas presentes ao evento.
"Cabo Verde e o Desafio da Integração Económica Internacional" e "As Opções de Desenvolvimento de Cabo Verde: Lições Comparativas num Contexto de Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento" foram os temas abordados, que contou com o concurso dos especialistas Teresa Damásio, João Estevão, Daniela Pereira e contou com a moderação de André Tolentino, consultor do Banco Mundial.

Cabo Verde é um País estável e maduro (?)

Cabo Verde é hoje um País socialmente coeso, politicamente estável e maduro, afirmou hoje em Lisboa, terça-feira, 4, o encarregado de Negócios da Embaixada do País mais mestiço na abertura do colóquio com o título "Cabo Verde: Desafios de Desenvolvimento, Perspectivas da sua Sustentabilidade", que teve lugar no auditório Alexandre Pessoa Vaz da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT) na capital portuguesa.
Daniel Pereira disse, por outro lado, que Cabo Verde, que assinala amanhã, 5 de Julho, 31 anos de independência, constitui hoje um exemplo de Estado de Direito Democrático em África, onde as instituições funcionam normalmente e a alternância democrática é uma realidade.
O diplomata caboverdiano reconheceu igualmente que, apesar de tudo, "o País continua a ser considerado pelo sistema das Nações Unidas como dos mais vulneráveis do mundo, tais são as suas fraquezas e debilidades económica e ambiental.

"Levanta o Chefe já existia muito antes do viagra"

Vuxhankuzi (Levanta o Chefe), Watchapaipe (Lava a Máquina), Kathaza e Massake são alguns dos nossos Viagras, usados há muito pelos homens e mulheres a reencontrarem o prazer sexual.
Muito antes do laboratório Pffizer anunciar o lançamento do seu célebre medicamento que, segundo consta, “até consegue levantar defuntos”, fazendo milagres a numerosos impotentes, sobretudo os de idade avançada, que pensavam que a “coisa não levantava mais”, nós por cá já tínhamos, afinal, remédios tão milagrosos e potentes como o Viagra.
Só com uma diferença: não têm tanta publicidade, não vêm em frascos de vidro, não têm rótulos, nem códigos de barra. Alguns vendedores desses medicamentos naturais contra a impotência, disseram ao Fim de Semana ter já ouvido falar do sucesso da droga americana, conhecida por Viagra, uma pílula capaz de pôr um homem impotente com o pénis eriçado, em pouco menos de 30 minutos e durante mais de hora e meia.
Mas ao que o Fim de Semana recolheu junto de vários vendedores destes remédios milagrosos “made in Mozambique”, os nossos curandeiros não estão atrapalhados com o surgimento do estrangeiro Viagra porque, mesmo antes dele, já se vendiam o Vuxhankuzi, Watchapaipe e outros, todos contra a impotência sexual, sendo usados por homens e mulheres de todas as idades.
O grau da eficiência desses medicamentos é testemunhada pela sua procura. Não se sabe quando é que foram descobertos, mas Jerónimo Mulhovo, um médico tradicional, acredita que o uso dessas raízes está associado à emancipação da civilização e cultura bantu há séculos, bem antes do Viagra, claro. “Comecei a vender esses medicamentos há sensivelmente 15 anos. A minha avó é que me ensinou a colher essas raízes no mato e nunca me disse quando é que começaram a utilizar para resolver os problemas de impotência sexual nos homens“, conta Mulhovo que diz ter muitos compradores dos seus produtos afrodisíacos.
De acordo com o curandeiro e vendedor de medicamentos tradicionais, na Praça do Xipamanine, em Maputo, as raízes têm “muita procura e gozam de uma eficiência respeitável”.“São homens e mulheres de todas as idades que cá aparecem para comprar Vuxhankuzi e Watchapaipe, para serem potentes sexualmente”, conta Mulhovo, acrescentando que as solicitações para a preparação dos medicamentos da impotência sexual até agora ultrapassam as suas capacidades de resposta e, por isso, tem optado por empregar alguns familiares para o ajudarem na sua preparação.
Segundo Mulhovo, as raízes que ele vende “nunca mataram ninguém e levantam o ‘material’ em pouco tempo”. “Li no Fim de Semana sobre o Viagra que até vocês disseram que já matou algumas pessoas. Nós aqui vendemos os medicamentos que não matam e que levantam o “material” do homem em pouco tempo (30 minutos) - esses são os Vuxhankuzi ou seja “Levanta o Chefe” e Watchapaipe o que quer dizer, “Lava a Máquina“, esses dois tipos de medicamentos, já comprovaram junto dos pacientes a sua eficiência e encontraram o melhor consumo nas pessoas entre homens e mulheres de todas as idades”, conta Mulhovo.
Para a administração do Vuxhankuzi e Watchapaipe, basta escolher a hora que se quer ter relações sexuais. Assim, faltando pouco tempo, toma-se o remédio e menos de meia-hora o pénis está em condições de atacar.
Caso o encontro não se efective, não se corre perigo de estar paralítico de alguns membros ou quaisquer danos no sistema genital, como já terá acontecido com o Viagra. Um dos pacientes que tomou este remédio americano acabou por ficar durante três horas com uma perna completamente dura, porque o remédio fez efeito num sítio errado.
Mulhovo disse ainda que as referidas raízes não só preparam o homem ou a mulher para aquele momento do prazer sexual, mas também se for usado durante um mês e com uma certa periodicidade, “acabará por completo a impotência sexual”.
“Esses medicamentos que adquirimos em Chidenguele, uma localidade na província de Gaza, curam a impotência e esterilidade nos homens e mulheres”, diz Mulhovo, acrescentando que a sua administração que é oral, não provoca efeitos colaterais.
“Para além destes medicamentos que nós aqui temos, existem outros importados que eu também vendo. São os Kathaza e Maissake, todos são raízes provenientes da Swazilândia, são eficientes e que nunca provocaram alguma desgraça nos seus utentes”, conta o curandeiro que diz que essas raízes são procuradas por religiosos, curandeiros, mulheres para si ou para os seus maridos. “Os majonijonis (mineiros moçambicanos na África do Sul) são os meus melhores clientes dos meus serviços”, disse Mulhovo.
Lourenço G., 52 anos, disse em conversa com o Fim de Semana que usou o Vuxhankuzi, o que o fez conseguir gerar dois filhos. “Comecei a tomar esses medicamentos em 1984 depois do meu «bicho ter caído» entre os anos de 1970 e 72, já não me recordo bem, porque estávamos em guerra, sempre que tomava o material levantava e fazíamos amor, e assim conseguimos o primeiro filho e depois o outro, agora temos usado (eu e a minha mulher) de vez em quando, porque agora sozinho ele já levanta” contou Lourenço, acrescentando que a ideia foi da sua mulher.
O Fim de Semana soube ainda que no Norte de Moçambique existem outras formas de “levantar o defunto”, através dos órgãos genitais de animais, como os cabritos ou porcos. “Presume-se que esses animais não sofrem de impotência sexual e daí o uso dos seus órgãos para o tratamento da doença”, disse Mulhovo, acrescentando que tentará trazer o medicamento para o Sul de Moçambique.

segunda-feira, julho 03, 2006

Carta aberta ao menino do Huambo

Um amigo angolano, nascido exactamente há 30 anos, escreve-me com regularidade e, na sua última mensagem, estranha o facto de há uns dias esta coluna não ter sido actualizada. Diz-me este menino do Huambo: «Os que nos querem acéfalos hão-de reconhecer um dia a importância do teu trabalho e saberão que nem todos atiram a carta destinada ao general Garcia na primeira valeta que encontram. Portanto, meu irmão, continua que estamos a ver o teu trabalho, o contributo, a tua luta por uma Angola (e por Portugal também) melhor.»
Que melhor alento poderá ter alguém que rema contra a maré?
Quando vejo jovens angolanos, nascidos e crescidos no meio da guerra, a lutar pela sua Pátria, a chamar as coisas pelos seus nomes e a enfrentar de peito aberto os maus ventos e as péssimas marés, fico com a certeza de que Angola tem futuro, mau grado estar sem presente.
Por outro lado, quando vejo os jovens portugueses, nascidos e crescidos na democracia e na paz, a abdicar da sua Pátria, a temer chamar as coisas pelos seus nomes e a meter o rabinho entre as pernas quando sopra uma brisa ou quando os ondas estão mais altas, fico com a certeza de que Portugal não tem futuro, mau grado ter (ainda) algum presente.
Quando vejo jovens angolanos, nascidos e crescidos no meio da destruição, da fome e da miséria, acreditar que é possível lutar pelos milhões que, como eles, têm pouco ou nada, e não pelos poucos que têm milhões, fico com a certeza de que Angola tem futuro.
Por outro lado, quando vejo os jovens portugueses, nascidos e crescidos no meio da opulência, a defender que vale tudo para conseguir um tacho, mesmo deixar a coluna vertebral em casa, fico com a certeza de que Portugal está entregue à bicharada.
Quando vejo jovens angolanos, nascidos e crescidos sabe Deus como, a lutar pela Liberdade, pelo direito à diferença e pela democracia, fico com a certeza de que Angola terá um futuro digno.
Por outro lado, quando vejo os jovens portugueses, nascidos e crescidos no meio da informação e da escolaridade, a claudicar perante os donos da verdade, a aceitar serenamente as ordens de um qualquer capataz que é director de qualquer coisa, fico com a certeza de que Portugal está cada vez mais próximo de ser um conjunto de pessoas comandado por autómatos.
Obrigado Jorge, menino do Huambo.
Crónica de Orlando Castro publicada aqui o ano passado

domingo, julho 02, 2006

As (duras) verdades ditas por Luís Araújo

Luís Araújo, coordenador da SOS-Habita, acusou, com toda legalidade e legitimidade, a União Europeia (UE) de ser cúmplice das milhares de mortes (por inanição e não só) que, mais do que ontem, hoje, mesmo depois do 22 de Fevereiro de 2002, têm cada vez mais lugar no País.
Frontal, como sempre, e a mostrar que sabe do que fala, Luís Araújo revelou que as representações da União Europeia em Angola estão mais, muito mais mesmo, interessadas no cheiro do petróleo e negócios (escuros) do que por exemplo na actual e real situação do Direitos Humanos em Angola.
Luís Araújo, que já sentiu na pele a forma como os agentes da Polícia Nacional tratam dos defensores e activistas de Direitos Humanos em Angola, tem toda (e mais alguma) razão por saber do que fala.
Contudo, a Luís Araújo faltou dizer que não é só a UE que se mostra indiferente à situação vigente em Angola, mas os também os Estados mais poderosos do mundo. É só ver a posição cínica e não poucas vezes silenciosa dos EUA sobre os Direitos Humanos e a protecção dos seus activistas em Angola.
Há angolanos que de forma ousada e desinteressada têm feito um trabalho digno de se lhe tirar o chapéu, mas fazem-no pensando de forma ingénua que caso sejam “apertados” pelo Governo tenham o apoio da Embaixada dos EUA em Luanda. Puro, ledo engano!
Repito, puro e ledo engano ou não tivesse a Embaixada americana mandado um jornalista apanhar um camião de fruta com destino à Namíbia quando este lá foi pedir asilo político.
Isto teve lugar dia 21 de Janeiro de 1995, aquando da morte de Ricardo de Mello, proprietário do jornal de tipo newsletter “Imparcial Fax”.
Crónica publicada incialmente aqui