Agência Bissau: o (bom) exemplo
«Fazer jornalismo de qualidade com imparcialidade é muito difícil no nosso país”. Quem o diz, quem o escreve sem meias palavras é o o Director Geral da Agência Bissau, António Nhaga. Embora seja uma verdade que também se aplica a outros países lusófonos, entre os quais Portugal, enalteço a coragem de quem como António Nhaga os tem no sítio e não teme a força dos ditadores, se bem que por exemplos recentes passados na Guiné-Bissau corra, volte a correr, – porque corre – risco de vida.
«Não actualizamos o nosso site desde 19 do mês passado, por causa de várias coincidências estranhas que até hoje ainda não conseguimos nem conseguiremos explicar bem aos nossos leitores», diz António Nhaga, acrescentando que “depois da ameaça de nos processar por termos publicado um artigo, na semana seguinte veio um acidente violento que nos deixou com lágrimas nos olhos”.
Mas há mais: “Antes de ressuscitarmos bem do acidente o nosso estabelecimento foi assaltado e curiosamente os assaltantes não roubaram o nosso gerador e outros equipamentos. Será que estavam à procura do nosso computador onde está instado a Internet? Por quê? Não sabemos».
Prossegue António Nhaga: “Mas, o pior aconteceu, quando preparamos para publicar um artigo enviado por um nosso leitor com o título “A estratégia da dissimulação”.
O nosso servidor, estranhamente, avariou-se e os nossos técnicos não conseguiram detectar a avaria. Foi necessário recorrermos a uma empresa no estrangeiro para podermos reparar avaria no nosso servidor”.
E qual terá sido o crime da Agência Bissau? Responde António Nhaga: “O único mal é, talvez, o de querermos fazer um jornalismo diferente com qualidade e imparcialidade”. Aí está a explicação que os ditadores, capatezes e similares nunca entenderão. ”Nós navegamos num mar de dificuldades enormes para produzirmos as notícias que produzimos para milhares de guineenses espalhados pelo mundo fora.
Portanto, não é justo que alguém destrua o nosso servidor para não publicarmos artigo A ou B. Ou porque não gosta do artigo A ou B”, desabafa António Nhaga num grito de revolta que tão bem conheço. ”Se todos os guineenses tivessem a consciência do serviço público que prestamos ao nosso país, teriam orgulho de ter um único jornal on-line que produz notícias do país”, diz António Nhaga acrescentando que a “Agência Bissau Media e Publicações é, sem dúvida, o único órgão de Comunicação Social nacional que leva rápido a imagem do país a todos os cantos do mundo”.
Caro António Nhaga, esse é que é o teu, o meu e de mais meia dúzia de malucos, crime.
”Procuramos acima de tudo fazer jornalismo. Não temos nada contra ninguém. Portanto deixem-nos trabalhar, naquilo que pensamos que sabemos fazer. Pois, só assim é que o país poderá sair desta “lenga-lenga” de “pauladas” que não dignificam a imagem do país no concerto das nações”, diz ainda António Nhaga numa visão que deve ser protegida e incentivada por quem ama a liberdade. ”O que é que estas coincidências inexplicáveis têm a ganhar ao silenciar a Agência Bissau Media e Publicações?
É uma vergonha tentar silenciar por via subterrânea a Agência Bissau Media e Publicações ou matar alguém porque quer trabalhar para o bem-estar do seu país”, termina António Nhaga. É uma mesmo uma vergonha. É uma vergonha que atinge toda a Lusofonia.
No entanto, caro António Nhaga, não estás só. Ainda há alguma boa gente no Jornalismo que entende que quem não vive para servir não serve para viver.
Cá estaremos.
Crónica do Jornalista Orlando Castro, publicada inicialmente aqui
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