O Arauto

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sexta-feira, janeiro 04, 2008

Sacrifícios para muitos, privilégios para poucos

No pretérito dia 27 de Dezembro do ano que há dias «ouviu» o seu «canto de cisne», o presidente angolano proferiu um discurso à Nação durante o qual destacou que «(…) todos constatam (…) que a paz está a consolidar-se todos os dias e que a guerra se tornou numa simples recordação dolorosa do passado». Tal como alguns mas quase todos os angolanos - refiro-me obviamente aqueles que amam, sentem e querem uma Angola sem tirania, livre e não fascista como o é presentemente - não me revejo na referida prédica. E não me revejo porque, na minha modesta opinião, a paz não está a ser consolidada todos os dias. Pelo contrário!
Contrariamente a Eduardo dos Santos, constato, isto sim, que fruto da actual situação económica e social que, debaixo do nosso sol político, se está a encher a encher um barril com pólvora que qualquer dia alguém vai atear com fogo nele. Contrariamente a
Eduardo dos Santos, constato, isto sim, que a guerra não se está a tornar numa simples recordação dolorosa do passado, mas sim num factor cada vez mais brutal e presente na consciência do Povo por não mais existirem condições objectivas e subjectivas para a vida de cão que os angolanos têm levado de 2002 para cá.
Eduardo dos Santos, que há muito deixou de ter o mandato do Povo para governar, pede, a dado momento do seu discurso, que «continuemos a trabalhar juntos para vencermos mais depressa a batalha da reconstrução material e espiritual da Nação». Pois é. Sacrifício para a maioria, no caso o Povo, e privilégio para uns poucos, no caso aqueles que rodeiam o Presidente angolano.
Crónica inicialmente publicada aqui

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Revolta do Cassanje-Embrião da luta pela independência

O historiador angolano Pedro Kapumba considera a Revolta da Baixa de Cassanje como "o alicerce" para a constituição de outros movimentos que levaram à independência de Angola, em 11 de Novembro de 1975. "Milhares de angolanos terão morrido nessa revolta. São heróis que criaram os alicerces para que outros movimentos se constituíssem para a contestação da colonização em Angola", disse Pedro Kapumba, docente de história de Angola no Instituto Superior de Educação (ISCED), da Universidade Agostinho Neto.
Segundo o historiador, apesar da inexistência de estatísticas, deverão ter morrido mais pessoas na revolta da Baixa de Cassanje, ocorrida a 4 de Janeiro de 1961, do que no início da luta armada, a 4 de Fevereiro de 1961. "O facto de terem morrido mais pessoas no 4 de Janeiro não o torna mais importante do que o 4 de Fevereiro (ataque a cadeias em Luanda desencadeado por nacionalistas e tido como o primeiro passo da luta armada), mas sim por ser um marco de referência histórica da ocupação colonial, que fez os portugueses compreenderem que teriam que engendrar outras formas para continuarem em Angola", frisou.
O historiador explica que, na segunda metade do século XX, altura em que se iniciou uma corrida "desenfreada" em África, Portugal, para implantar a colonização, teve de transformar as sociedades africanas. "Com a evolução da indústria europeia - particularizando a economia portuguesa -, Portugal, em posse do território angolano, tudo fez para facilitar as suas obras, fazendo com que as populações nativas não tivessem nenhuma relutância para o prosseguimento dos seus interesses", referiu o professor.
Pedro Kapumba salienta que, para atingir os seus objectivos, os portugueses optaram pela expropriação de terras aos africanos, entregando-as aos colonos. "A expropriação de terras foi um dos mecanismos utilizados pelos portugueses para facilitar a implementação dos seus projectos. E a Baixa de Cassanje foi dada para a produção de algodão e exploração de diamantes", disse.
A região da Baixa de Cassanje, uma área composta por dez municípios integrados pelas províncias de Malange e da Lunda Norte, na altura foi entregue à Cotonang, empresa de exploração de algodão. A necessidade desta empresa transformar a região numa zona de produção de algodão fez com que fosse proibido aos africanos cultivarem bens do seu costume alimentar, como a mandioca. "Esta obrigatoriedade da produção de algodão espoletou o ódio entre as populações africanas, numa altura em que muitos estados africanos sob dominação colonial tinham já obtido a sua independência, influenciando bastante a atitude dos angolanos", salientou.
A independência do vizinho Congo foi, segundo o professor, "um dos motores" para a organização e forma de ver o sistema colonial pelos camponeses desta região. "A passagem pela região de alguns belgas fugidos do Congo veio facilitar a consciencialização política dessas populações para a adopção de uma postura violenta de contestação, mesmo com a camuflagem que a PIDE tentava fazer para esconder o que se estava a passar no vizinho Congo", disse.
"Terá sido também por essa influência do Congo e de alguns movimentos nacionais já constituídos que se deu a revolta dos camponeses da Baixa de Cassanje, em 4 de Janeiro de 1961, que culminou com a morte de milhares de angolanos, bombardeados pela força aérea portuguesa", afirmou.
Em conclusão, Pedro Kapumba afirma que o 4 de Janeiro foi "um salto" para o 4 de Fevereiro, o início da luta armada, o assalto às cadeias em Luanda e ao 15 de Março, data reivindicada pela Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), como data do começo da luta de libertação. "O 4 de Janeiro, uma continuação de outras resistências, foi a resposta mais violenta ao sistema colonial, em que se levantaram milhares de camponeses contra o sistema de exploração colonial na baixa de Cassanje", lembrou.
É preciso clarificar a Revolta do Cassanje, diz Pepetela A "Revolta da Baixa do Cassanje" "precisa de ser clarificada" para que os angolanos "conheçam a sua verdadeira dimensão histórica", defende o escritor angolano, Artur Pestana (Pepetela). A exortação de Pepetela surge quando passam 47 anos sobre o também chamado "Levantamento do Cassanje", data que marca os sangrentos confrontos entre os camponeses dos campos de algodão explorados pela empresa Cotonang e o poder colonial português.
Esta data, que durante muitos anos da Angola independente foi subvalorizada, ressurge agora como um dos momentos altos da luta nacionalista que viria a redundar na independência do país a 11 de Novembro de 1975, a par de outras como o 4 de Fevereiro ou o 15 de Março. O escritor e professor universitário angolano admite existirem duas versões divergentes quanto aos acontecimentos da Baixa de Cassanje, o que no seu entender exigem uma "clarificação" da sua "verdadeira dimensão histórica".
"O que se conhecia sobre o que ocorreu na Baixa de Cassanje era uma simples reivindicação de agricultores de algodão que pretendiam obter preços mais elevados do seu produto, mas a companhia compradora rejeitou, desembocando no levantamento que culminou na morte de centenas de pessoas", recordou Pepetela.
Mas aquele que é um dos mais notáveis escritores angolanos aponta para o surgimento de uma nova perspectiva dos acontecimentos que marcaram este episódio, cujo epicentro foram os campos de algodão da Cotonang. Uma revolta de "inspiração militar", cujo objectivo era procurar caminhos para iniciar a luta de libertação nacional, é apontada por Pepetela como merecedora de novos e aprofundados estudos.
De acordo com Pepetela, para que a população angolana tenha orgulho sobre tudo o que se passou na Baixa de Cassanje os historiadores devem esclarecer os factos.
Sem dúvidas, o vice-ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra, Lourenço Contreiras Neto, diz que "o feito de Cassanje", no âmbito da acção de camponeses contra a Cotonang, empresa colonial que explorava os campos de algodão da região, foi "um levantamento que se enquadrou na luta clandestina que então eclodia em Angola".
"Entre aqueles trabalhadores haviam elementos activos que estiveram na base das manifestações. Embora tivesse um desfecho infeliz, com a morte de centenas de nacionalistas, este momento marcou decisivamente a luta dos angolanos pela independência", apontou Lourenço Neto.
Já o deputado Jorge Valentim, da UNITA, figura histórica do nacionalismo angolano, lembrou que "acções heróicas" foram também desencadeadas em várias regiões de Angola, dando o exemplo da cidade do Lobito onde, na década de 1960, vários missionários e professores foram presos por se identificarem com a luta de libertação nacional.


A Revolta da Baixa do Cassanje, para Jorge Valentim, deu a "indicação clara de que era possível lutar contra o colonialismo, não apenas os intelectuais, mas alargando a luta ao nível das largas massas populares".


O político, que considera o levantamento da Baixa de Cassanje uma "contribuição à causa do nacionalismo angolano", sublinhou que, com este acto, as massas populares angolanas se evidenciaram, embora a acção dos movimentos de libertação existentes à época (MPLA e UPA/FNLA) não estivesse ainda bem definida".

Fonte: Notícias Lusófonas

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Benguela prepara-se para se lançar na produção de café Arábica

Pressionada pela crescente procura da variedade Arábica nos mercados internacionais, a província angolana de Benguela prepara-se para relançar a produção de café, que foi a sua principal actividade económica até à década de 1970. O director provincial da Agricultura, Abrantes Carlos Sequesseque, disse hoje que, apesar de ainda não ser produtora, os mercados internacionais têm "pressionado" para que Benguela passe a produzir a variedade Arábica graças às suas excelentes condições naturais para a plantação de café.
Abrantes Carlos Sequesseque referiu que são os países europeus que mais têm pressionado para que Benguela se lance na produção de café Arábica, embora só num prazo de três anos esta província costeira situada a sul de Luanda deverá estar em condições de exportar este produto. Para isso, adiantou o director provincial da Agricultura de Benguela, são fundamentais os passos que estão a ser dados para a reabilitação da estação experimental do café da Ganda.
Nesta estação foram já criados viveiros comunitários para a multiplicação de plantas que, quando chegar o momento ideal, serão entregues aos camponeses da região e empresários que pretendam dedicar-se à cafeicultura. Ainda segundo Sequesseque, na primeira das três fases do projecto, serão beneficiadas mais de mil famílias, das províncias de Benguela e Huila, para a expansão da produção da variedade Arábica. Passo este que será o alicerce da actividade que se prevê rentável num curto prazo graças à "notável demanda" dos mercados internacionais.
Os responsáveis da Agricultura de Benguela recordam que actualmente, os camponeses subsistem à base da produção de milho, matéria que serve apenas as necessidades locais, não criando mais-valias económicas comparáveis às que a cafeicultura oferece. No entanto, a produção de café nunca chegou a ser totalmente esquecida, existindo uma pequena produção que "nem de perto nem de longe" se aproxima do real potencial da região.
O clima e a orografia de Benguela permitem a produção de vários tipos de café, tendo os municípios de Ganda, onde está localizada a estação experimental, Cubal e Balombo sido escolhidos para a intensificação da cafeicultura devido às condições naturais para o efeito, que são consideradas excelentes.
Benguela, Huila e Huambo são as três províncias onde os serviços da Agricultura de Angola estão a apostar no relançamento da produção de café, retomando uma tradição que foi de grande relevo até meados da década de 1970, antes da independência do país.
Antes do café, com enfoque na variedade Robusta, ter sido substituído pelo petróleo como uma das principais exportações do país, Angola chegou a produzir 200 mil toneladas/ano, acabando a guerra pós-independência por debilitar a estrutura produtiva de café até ao desaparecimento quase total da estrutura comercial dedicada à actividade.
Já identificados os principais problemas para o relançamento da actividade, como seja a dificuldade de acesso ao crédito por parte dos camponeses, e a falta de formação, as autoridades angolanas do sector agrícola estão, agora, empenhadas em relançar uma actividade para a qual as condições naturais estão onde sempre estiveram.

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