Eduardo dos Santos (não) é como Salazar (II)
O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, veio terreiro, ontem, terça-feira, 5, desdizer a afirmação que terá (?) proferido durante a sessão de abertura da Comissão Política do Galo Negro realizada na pretérita semana em Luanda em que comparou Eduardo dos Santos (Presidente da República de Angola e do MPLA) ao ditador português de triste memória António de Oliveira Salazar.
"Em momento nenhum eu comparo Sua Execlência o Presidente da República com o ditador Salazar. Comparo sim os métodos de trabalho e as artimanhas que são utilizadas muitas vezes utilizadas para esvaziar determinadas situações", esclareceu Isaías Samakuva em conferência de imprensa para desfazer o (suposto) equívoco.
O recuo de Isaías Samakuva relativo às afirmações que lhe são imputadas revelam que Angola, contrariamente ao que era suposto, possível e desejável, ainda não é um País normal onde a oposição política pode cumprir o seu papel, o de criticar quem (des) governa.
Aliás, a posição de Isaias Samakuva demonstra que, em Angola, quem não faz coro com o poder instituído ( jornalistas, academicos, defensores de Direitos Humanos e activistas sociais) está numa mão circunstacialmente aberta que se pode fechar a qualquer momento e...esmagá-lo, triturá-lo.
E como Isaías Samakuva tem disso consciência entendeu ( digo eu) por bem dar o dito pelo não dito, sob pena de correr o risco de chocar com uma bala nas ruas de Luanda, de perder os travões do carro na estradas da capital angolana ou ainda de ver a empregada de lá de casa a receber "ordens superiores" para "açucarar" o café do sucessor de Jonas Savimbi com uma pequena dose de "polónio- 210".
PS - Reitero a ideia de que Isaías Samakuva (não) está certo no que tange à comparação que faz entre Oliveira Salazar e Eduardo dos Santos. Ou será que o facto de o primeiro ter enviado ("já e em força" sic!) forças militares para Angola e Moçambique e o segundo ter feito o mesmo em relação aos Congos Democráticio e Brazaville os aproxima nalguma coisa?
5 Comentários:
Às 12:07 da tarde , Anónimo disse...
Interessante o remate final.
kandandu
EA
Às 7:55 da tarde , Anónimo disse...
Gosta da maneira como escreve e como interpreta o panorama. Sou um irmão angolano. Abraço
Às 8:24 da tarde , Anónimo disse...
Embora concorde com o post anterior, permita-me que critique este último. Isaías Samakuva disse:
"Poderemos assistir, nas próximas semanas, a diversos episódios de subversão da democracia. Como fiéis aprendizes dos métodos totalitaristas, o regime talvez recorra, mais uma vez, à sua escola para subverter a democracia angolana, e fazer, em 2007, exactamente o que Salazar fez em 1951. Permitam-me recordar uma das manobras salazaristas que a história regista:
Após a admissão de Portugal nas Nações Unidas, em 1955, o Secretário Geral das Nações Unidas requereu as autoridades de Lisboa uma listagem dos territórios administrados por Portugal que não tinham governo próprio, eleito pelos respectivos povos. Segundo o Artigo 73° da Carta das Nações Unidas, os paises membros responsáveis por territórios não-autónomos comprometiam-se a cumprir três requisitos: (1) Assegurar o desenvolvimento político, económico, social e educacional das populações respectivas; (2) Promover governo próprio tendo em conta as aspirações das populações; e (3) Prestar ao Secretário-geral informações estatísticas e técnicas sobre esses territórios.
Recordo que foi a aplicação dinâmica e em grande escala do Artigo 73°, que impulsionou, desde 1946 até 1961, a independência de cerca de 40 países, dos quais 22 africanos.
Numa premonição política, Salazar tinha-se antecipado aos problemas criados pelo Artigo 73°, recorrendo a um artifício jurídico-constitucional. Com efeito, através de uma emenda constitucional, em 1951, Salazar recuperou a doutrina integracionista, e as colónias passaram a designar-se por províncias ultramarinas no texto da Constituição. Segundo essa doutrina, Portugal e os territórios do império formavam um estado uno e indivisível, dotado de uma só ossatura administrativa e de um só direito, fortemente centralizados em Lisboa.
A emenda constitucional de 1951 consumou a derrota dos ideólogos da descentralização administrativa, como o Professor Marcelo Caetano, e impôs o integracionismo como doutrina oficial do Estado português. Aplicando tal doutrina, Salazar sentiu-se a vontade para responder ao Secretário-geral das Nações Unidas nos seguintes termos: "Portugal não administra territórios que possam ser incluídos na categoria indicada pelo Artigo 73°.".
Esta artimanha jurídica, porém, não alterou a realidade política das colónias. A realidade manteve-se: Angola não tinha um governo próprio, eleito pelas suas populações. A comunidade internacional, na época, não se deixou enganar. Após uma visita a Lisboa, em Fevereiro de 1962, o Secretário de Estado de Truman, Presidente americano na época, escreveu: "Não restam duvidas que se trata do governo de um homem só e que tudo gira a volta dele. O mais provável é que, se Salazar morrer ou perder os seus poderes, Portugal volte a confusão da qual ele o arrancou."(1)
A comunidade internacional constatou sabiamente que, ao persistir numa política anti-democrática, anti-eleições, em violação ao direito, Salazar havia se transformado, ele próprio, num factor de instabilidade, quer para Portugal, quer para os interesses da NATO. Por isso, a comunidade internacional ajudou os Portugueses a conquistar a verdadeira democracia e a estabilidade para Portugal."
Como é se pode ver Isaías Samakuva estava a citar um livro, e mesmo citando-o nunca comparou José Eduardo dos Santos a Salazar. Limitou-se a comparar métodos e trafulhices. Portanto Samakuva não veio desmentir-se. A bem da verdade e para que o Mpla não usasse as usas palavras para aumentar o terrorismo de estado, Samakuva veio colocar os pontos nos is.
Até porque era preciso verificar se os media governamentais ocultavam de novo o discurso e a conferência de imprensa, como ocultaram tudo o que se passou na reunião da Comissão Política da UNITA.
Às 8:59 da tarde , renato gomes pereira disse...
SE não fosse t´ragico todo este foguetório com que o MPLA se incendiou...er´até hilariante e comédia...Infelizmente afactura é sempre para O Povo que avai pagar..
Samakuva só disse e continua a dizer a VERDADE..porque só aVerdade pode libertar o Povo Angolano...
Às 5:32 da tarde , Upindi Pacatolo disse...
Meu mano, sinto-me ultrapassado pelo kota Balumuka. Mas ainda assim, gostava de dizer o seguinte: nós que estámos em Angola não tivemos acesso aos pronunciamentos de Samakuva pela imprensa pública. Ouvimos e vimos as reacções do MPLA e os comentários dos jornalistas; ouvimos reacções e editorais contra algo que não nos deram a conhecer antes, nem depois. portanto, o dito "desdisse" também foi interpretação dos jornalistas públicos e alguns privados. ficamos sem saber oficialmente o que terá dito ou não Samakuva...
Mas cá dentro poucos cairam na finta dos "jornalistas".
o razoável seria ouvir na integra Samakuva e depois as reacções, mas não foi o caso...
até breve!!!
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