O Arauto

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sexta-feira, janeiro 04, 2008

Sacrifícios para muitos, privilégios para poucos

No pretérito dia 27 de Dezembro do ano que há dias «ouviu» o seu «canto de cisne», o presidente angolano proferiu um discurso à Nação durante o qual destacou que «(…) todos constatam (…) que a paz está a consolidar-se todos os dias e que a guerra se tornou numa simples recordação dolorosa do passado». Tal como alguns mas quase todos os angolanos - refiro-me obviamente aqueles que amam, sentem e querem uma Angola sem tirania, livre e não fascista como o é presentemente - não me revejo na referida prédica. E não me revejo porque, na minha modesta opinião, a paz não está a ser consolidada todos os dias. Pelo contrário!
Contrariamente a Eduardo dos Santos, constato, isto sim, que fruto da actual situação económica e social que, debaixo do nosso sol político, se está a encher a encher um barril com pólvora que qualquer dia alguém vai atear com fogo nele. Contrariamente a
Eduardo dos Santos, constato, isto sim, que a guerra não se está a tornar numa simples recordação dolorosa do passado, mas sim num factor cada vez mais brutal e presente na consciência do Povo por não mais existirem condições objectivas e subjectivas para a vida de cão que os angolanos têm levado de 2002 para cá.
Eduardo dos Santos, que há muito deixou de ter o mandato do Povo para governar, pede, a dado momento do seu discurso, que «continuemos a trabalhar juntos para vencermos mais depressa a batalha da reconstrução material e espiritual da Nação». Pois é. Sacrifício para a maioria, no caso o Povo, e privilégio para uns poucos, no caso aqueles que rodeiam o Presidente angolano.
Crónica inicialmente publicada aqui

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quinta-feira, março 08, 2007

Nino e Eduardo dos Santos: o poder perpétuo (ou quase)

O presidente bissau-guineense chega hoje, terça-feira, 27, a Luanda para um encontro com o seu homologo angolano. Durante 24 horas João Bernardo “Nino” Vieira e Eduardo dos Santos vão passar em revista as relações entre os dois países, bem como a cooperação bilateral em vários domínios, nomeadamente na actuação da Guiné-Bissau e de Angola na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Esta é a agenda oficial de “Nino” Vieira.
A segunda agenda, logo não oficial, digo eu, irá versar sobre o aprimoramento dos conhecimentos de “Nino” Vieira sobre as melhores formas de se perpetuar no poder, de subverter a democracia, de proscrever jornalistas e intelectuais dos seus meios e ordenar a prisão de activistas de Direitos Humanos, sejam eles da Global Witness ou não, tal como Eduardo dos Santos o tem feito com arte, mestria e sabedoria sem que a putativa Comunidade Internacional tuja ou muja.
Eduardo dos Santos, como não poderia deixar de ser, vai oferecer com o dinheiro dos angolanos ao seu mui amigo bissau-guineense banquetes regados com o melhor e mais caro vinho guardado nas adegas do Palácio da Cidade Alta.
Uma vez que os banquetes serão pagos com dinheiro dos angolanos, por uma questão de solidariedade com os povos que sentem no corpo e na alma política o peso da bota da autocracia, da arrogância e da ausência da democracia e de algumas liberdades, seria de bom tom que Eduardo dos Santos procurasse saber efectivamente o que se passa na Guiné-Bissau.
Por isso, espero, com o desejo intranquilo de quem quer a resposta para o dia de ontem, que, à margem ou no decurso da visita, Eduardo dos Santos inquira, sem sofismas nem eufemismos, “Nino” Vieira por que razão se assiste, nos últimos tempos e cada vez mais, na Guiné-Bissau a actos escuros como a cor negra da cobardia que na maior parte das vezes resultam em mortes estranhas e inexplicáveis de jornalistas, intelectuais, políticos e militares nesta antiga colónia de Portugal.
Espero, porque acredito piamente que não quererão certamente que por vossa causa se diga que a civilização nos PALOP´s está em decadência, que Eduardo dos Santos indague o inquilino do Palácio da Colina de Boé a razão do ódio inflamado contra a classe jornalística e a violência indirecta contra alguns, mas quase todos, intelectuais que não são bem quistos pelo regime que (ainda) vigora na Guiné-Bissau.
Espero, tal como a minha mãe, a dona Maria Helena, ensinou-me a esperar paciente nas horas duras e difíceis, que Eduardo dos Santos faça a fineza de procurar esclarecer porquê que os jornalistas, intelectuais, políticos e militares se tornaram inimigos a abater na primeira esquina das ruas escuras, medonhas e esburacadas de Bissau.
Espero que Eduardo dos Santos não se deslembre de auscultar Nino Vieira e esclarecer porquê que a paz que se esperava na Guiné-Bissau deu lugar à hostilidade e ao terrorismo velado (e ao mesmo tempo aberto) contra os jornalistas, intelectuais, políticos e militares.
Se tal não acontecer, Eduardo dos Santos e “Nino” Vieira irão matar a nesga, a réstia de esperança, que em mim ainda existe, de que se pode fazer alguma coisa em defesa dos povos angolano e guineense.

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